Interpretação Alegórica vs. Literal na Escatologia
A interpretação da escatologia, o estudo dos eventos finais, é um tópico complexo que envolve diferentes abordagens hermenêuticas. As duas principais abordagens são a interpretação alegórica e a interpretação literal.
Interpretação Alegórica:
- Definição: A interpretação alegórica busca um significado simbólico ou espiritual por trás do texto literal, muitas vezes negando ou desconsiderando o significado histórico. O intérprete procura significados secundários e mais profundos, vendo as palavras e eventos como alegorias para verdades espirituais.
- Exemplo: Um exemplo comum de interpretação alegórica é a interpretação do livro de Cantares de Salomão como uma alegoria do amor de Cristo pela Igreja. Neste caso, a relação literal entre Salomão e a Sulamita é vista como uma representação simbólica do relacionamento espiritual entre Cristo e seus seguidores.
- Perigos: O principal perigo da interpretação alegórica é a subjetividade. A interpretação fica sujeita à mente do intérprete, que pode impor seus próprios preconceitos, crenças e contexto social ao texto. Isso pode levar a interpretações distorcidas e até mesmo contraditórias. Além disso, a falta de critérios objetivos para validar as interpretações alegóricas torna difícil comprovar sua validade.
- Crítica: Os defensores da interpretação literal criticam a alegórica por sua arbitrariedade e falta de rigor metodológico. Eles argumentam que a alegorização abre espaço para interpretações especulativas e sem fundamento, comprometendo a integridade da mensagem bíblica.
Interpretação Literal:
- Definição: A interpretação literal, também conhecida como histórico-gramatical, busca o significado original do texto, considerando o contexto histórico, gramatical e literário. O intérprete procura entender as palavras em seu sentido usual e cotidiano, considerando as figuras de linguagem e os símbolos dentro de seu contexto.
- Exemplo: Um exemplo de interpretação literal é a interpretação das profecias do Antigo Testamento sobre o reino davídico como promessas de um reino literal e terreno governado por Cristo. Os defensores dessa interpretação argumentam que a linguagem da aliança davídica aponta para um cumprimento literal e histórico, e não meramente espiritual.
- Vantagens: A interpretação literal preza pela objetividade, buscando o significado original do texto e limitando a influência dos preconceitos do intérprete. Esse método se baseia em critérios linguísticos e históricos para determinar o significado das palavras e passagens, proporcionando maior segurança e precisão na interpretação.
- Linguagem figurada: Os defensores da interpretação literal reconhecem que a Bíblia utiliza linguagem figurada, como alegorias, tipos e símbolos. Eles argumentam, no entanto, que a linguagem figurada é utilizada para expressar verdades literais, e não para negar ou obscurecer o significado histórico. O intérprete deve, portanto, buscar o significado literal que a linguagem figurada pretende transmitir.
Eu sou o pão da vida.
Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram.
Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.
Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.
Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como nos pode dar este a sua carne a comer?
Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último Dia.
Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu, nele.
Comparação:
- Ponto central: O ponto central da divergência entre as duas interpretações reside na forma como cada uma lida com a linguagem figurada e simbólica presente nas Escrituras. A interpretação alegórica busca significados ocultos e espirituais por trás da linguagem figurada, enquanto a literal procura entender o significado literal que a linguagem figurada pretende transmitir.
- Uso de exemplos: Ambas as interpretações utilizam exemplos bíblicos para sustentar suas posições. Os alegoristas citam passagens como o livro de Cantares de Salomão para defender a busca por significados espirituais, enquanto os literalistas apontam para as profecias sobre o reino davídico como evidência de um cumprimento literal.
- Importância do contexto: Ambas as interpretações reconhecem a importância do contexto para a correta interpretação das Escrituras. A diferença reside na forma como cada uma define e aplica o contexto. A interpretação alegórica pode buscar um contexto mais amplo, que abranja toda a Escritura ou a tradição da Igreja, enquanto a literal prioriza o contexto imediato da passagem, considerando os aspectos históricos, gramaticais e literários.
Conclusão: