Interpretação Alegórica vs. Literal na Escatologia

A interpretação da escatologia, o estudo dos eventos finais, é um tópico complexo que envolve diferentes abordagens hermenêuticas. As duas principais abordagens são a interpretação alegórica e a interpretação literal.

Interpretação Alegórica:

De acordo com esse método, o sentido literal e histórico das Escrituras é completamente desprezado, e cada palavra e acontecimento é transformado em alegoria de algum tipo, já para escapar de dificuldades teológicas, já para sustentar certas crenças religiosas estranhas...( Charles T. Fritsch, Biblical typology, Bibliotheca Sacra, 104:216, Apr., 1947)
As anotações da Scofield Reference Bible freqüentemente aplicam a interpretação alegórica (figurativa) e a tipológica às narrativas do Velho Testamento. Os exemplos seguintes são encontrados na New Scofield Reference Bible (1967). O livro inteiro de Cantares de Salomão (ou Cântico dos Cânticos) tem uma interpretação tripla: (1) do amor de Salomão pela Sulamita; (2) "como uma revelação figurativa do amor de Deus pelo Seu povo do concerto, Israel, a esposa do Senhor (Is. 54:5-6; Jr 2:2...)"; (3) "como uma alegoria do amor de Cristo... (Hans K. LaRondelle - O Israel de Deus na Profecia)
A autoridade básica da interpretação deixa de ser a Bíblia e passa a ser a mente do intérprete. A interpretação pode então ser distorcida pelas posições doutrinárias do intérprete, pela autoridade da igreja à qual ele pertence, por seu ambiente social e por sua formação ou por uma enormidade de fatores... Um terceiro grande perigo do método alegórico é que não há meios de provar as conclusões do intérprete (MANUAL DE ESCATOLOGIA J. Dwight Pentecost).
O primeiro grande perigo do método alegórico é que ele não interpreta as Escrituras. Terry afirma: ... será imediatamente percebido que seu hábito é desprezar o significado comum das palavras e dar asas a todo tipo de especulação fantasiosa. Ele não extrai o sentido legítimo da linguagem de um autor, mas insere nele todo tipo de extravagância ou fantasia que um intérprete possa desejar. Como sistema, portanto, ele se coloca além de todos os princípios e leis bem definidos. (Terry, op. cit., p. 224.)

Interpretação Literal:

O método literal de interpretação é o que dá a cada palavra o mesmo sentido básico e exato que teria no uso costumeiro, normal, cotidiano, empregada de modo escrito, oral ou conceitual. (Ramm, op. cit., p. 53) Chama-se método histórico-gramatical para ressaltar o conceito de que o sentido deve ser apurado mediante considerações históricas e gramaticais. (Cf. Thomas Hartwell Horne, An introduction to the critical study and knowledge of the Holy Scriptures, I, 322.)
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Esse é o aclamado método da alta tradição escolástica do protestantismo conservador. É o método de Bruce, Lightfoot, Zahn, A. T. Robertson, Ellicott, Machen, Cremer, Terry, Farrar, Lange, Green, Oehler, Schaff, Sampey, Wilson, Moule, Perowne, Henderson Broadus, Stuart — para citar apenas alguns exegetas típicos. (Ramm, op. cit, p. 62-3) . (MANUAL DE ESCATOLOGIA J. Dwight Pentecost).
Então, para entender completamente a linguagem figurada das Escrituras, é requisito, em primeiro lugar, procurar saber o que realmente é figurado, para não considerar literal o que é figurado, o que faziam muitas vezes os discípulos do nosso Senhor e os judeus, e para não perverter o significado literal com uma interpretação figurada; e, em segundo lugar, quando apurarmos o que realmente é figurado, interpretar isso corretamente e apresentar seu sentido verdadeiro. (Horne, op. cit, i, 356.)
Disse Jesus em João 6:48-56:

Eu sou o pão da vida.
Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram.
Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.
Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer desse pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.
Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como nos pode dar este a sua carne a comer?
Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último Dia.
Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu, nele.

Comparação:

Por causa dessa unidade fundamental em Cristo e dessa correspondência ou analogia teológica, é legítimo interpretar o Velho em termos do Novo. Alguns, contudo, se recusam a fazer distinção entre uma interpretação alegórica que é homogênea com a totalidade das Escrituras e uma interpretação tipológica. Por isso, parece mais correto concluir que a alegorização incidental de Paulo "repousa em uma estrutura tipológica e não é alegoria no sentido usual judaico ou helênico" Na alegorização de Paulo da história de Sara e Agar (de Gênesis 21) em Gálatas 4:24-31, ele enfatiza o significado teológico que é comum – a base analógica – tanto da história do Velho Testamento e da situação histórica de Jerusalém (Judaísmo) presente, quanto da Igreja. (Hans K. LaRondelle - O Israel de Deus na Profecia)

Conclusão:

A escolha entre a interpretação alegórica e a literal da escatologia depende da perspectiva hermenêutica do intérprete. Cada método apresenta vantagens e desvantagens, e a escolha por um ou outro pode influenciar significativamente a compreensão dos eventos finais. É importante que o intérprete esteja ciente dos pressupostos de cada método e busque aplicar os princípios hermenêuticos de forma consistente e coerente.

Referência

Escatologia - Doutrina das últimas coisas. - YouTube