As dispensações
As dispensações são períodos de tempo em que Deus testa a obediência do homem em relação a alguma revelação especial de sua vontade. A palavra "dispensação" deriva do termo grego "oikonimia", que significa "economia" ou "boa ordem na administração de uma casa".
Existem diferentes perspectivas sobre as dispensações, incluindo:
- Sete dispensações: Uma visão comum é que existem sete dispensações distintas ao longo da história bíblica. Segundo o Pr. Severino Pedro da Silva, uma dispensação é "um período em que o homem é experimentado em relação à sua obediência a alguma revelação especial da vontade tanto permissiva como diretiva de Deus". Essas dispensações incluem:
- Dispensação da Inocência
- Dispensação da Consciência
- Dispensação do Governo Humano
- Dispensação Patriarcal
- Dispensação da Lei
- Dispensação da Graça
- Dispensação do Reino
- É importante notar que a última dispensação, a do Reino, é considerada futura.
- Críticas à visão dispensacionalista: Alguns estudiosos criticam a ideia de múltiplas dispensações como um conceito antibíblico. Argumentam que a palavra "dispensação" (oikonomia) na Bíblia se refere a mordomia ou administração, e não a um período de teste. Também apontam que as distinções entre as dispensações são arbitrárias e que elas se sobrepõem.
- Dispensacionalismo e a relação entre Israel e a Igreja: O dispensacionalismo clássico defende que Deus tem propósitos distintos para Israel e a Igreja, com diferentes promessas e planos escatológicos. Essa visão sustenta que as profecias feitas a Israel não se aplicam à Igreja, e vice-versa.
- Aliança e dispensações: Há uma conexão entre a ideia de dispensações e alianças. Alguns teólogos distinguem entre diferentes dispensações da aliança, como a aliança da graça sob a administração da lei e sob a administração do evangelho. Essa visão contrasta com o dispensacionalismo moderno, que enfatiza a separação radical entre as dispensações.
- Três dispensações: Alguns estudiosos propõem três dispensações principais: antes da lei, sob a lei e após a lei. Essa visão reconhece uma progressão na revelação de Deus, mas sem as divisões radicais do dispensacionalismo clássico.
- A visão Reformada: A teologia reformada, por exemplo, tende a minimizar as divisões entre as dispensações, enfatizando a unidade do plano de Deus e a continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento. Os reformados consideram que a aliança da graça é o elemento unificador através das dispensações.
Implicações Teológicas:
- A maneira como se entende as dispensações influencia a interpretação das profecias bíblicas e a compreensão do plano de Deus para a história.
- A visão dispensacionalista tende a interpretar as profecias de forma literal e a fazer distinções claras entre Israel e a Igreja.
- A visão reformada, por outro lado, tende a interpretar as profecias de forma mais tipológica e a enfatizar a continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento.
Tabela comparativa
Podemos comparar as dispensações em uma tabela, destacando suas principais características e diferenças. É importante notar que existem diferentes pontos de vista sobre o número e a natureza exata das dispensações, com algumas fontes defendendo sete dispensações, enquanto outras propõem três ou até menos, ou criticam essa divisão como arbitrária.
A tabela a seguir apresenta uma visão geral das dispensações mais comuns, organizadas em uma tabela para melhor compreensão.
Dispensação | Período/Características Principais | Teste/Responsabilidade do Homem | Resultados | Aliança Principal |
---|---|---|---|---|
Inocência | Período antes da queda do homem, no Jardim do Éden. A humanidade vivia em comunhão direta com Deus, sem pecado. | Obedecer ao mandamento de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. | Desobediência e queda da humanidade, resultando em pecado, morte e separação de Deus. | Aliança com Adão, prometendo um redentor da semente da mulher. |
Consciência | Após a queda, o homem passa a ter consciência do bem e do mal. A responsabilidade é seguir a luz da consciência e buscar a Deus. | Seguir a consciência e buscar a Deus. | Aumento da maldade e violência, culminando no dilúvio. | Aliança com Noé, prometendo não destruir a terra por meio de um dilúvio novamente. |
Governo Humano | Após o dilúvio, Deus estabelece o governo humano, delegando responsabilidade e poder aos homens para governar a terra e controlar o pecado. | Exercer o governo com justiça e seguir as leis estabelecidas. | A rebelião do homem em Babel, resultando na dispersão dos povos e na criação de diversas nações. | Não especificada como uma aliança formal nesse período, embora haja um decreto para o governo humano em geral. |
Patriarcal | Período em que Deus interage com os patriarcas (Abraão, Isaque, Jacó) por meio de promessas e revelações. A ênfase está na fé e na obediência pessoal. | Crer nas promessas de Deus e obedecer à Sua vontade. | Formação da nação de Israel e promessas de descendência e terra. | Aliança com Abraão, prometendo descendência, terra e bênção para todas as nações. |
Lei | Deus estabelece a Lei por meio de Moisés, dando a Israel um código legal detalhado, incluindo mandamentos, leis cerimoniais e de justiça. O objetivo era mostrar a pecaminosidade do homem e a necessidade de um Salvador. | Obedecer à Lei, tanto moral quanto cerimonialmente. | Impossibilidade de cumprir perfeitamente a Lei, revelando a necessidade de um Salvador. | Aliança Mosaica, estabelecendo as leis e exigências para Israel, apontando para a necessidade de um Redentor. |
Graça | Período inaugurado pela vinda de Jesus Cristo, em que a salvação é oferecida pela graça, por meio da fé, e não por obras da lei. A ênfase está no amor e na misericórdia de Deus. | Aceitar o sacrifício de Cristo e viver uma vida de fé e obediência ao Espírito Santo. | A Igreja é formada e espalhada pelo mundo, oferecendo a salvação a todos que crêem. | Nova Aliança em Cristo, baseada na graça, oferecendo perdão, reconciliação e vida eterna. |
Reino | Período futuro em que Cristo retornará e reinará sobre a terra por mil anos, estabelecendo paz, justiça e retidão. Os crentes participarão do Seu reino. | Participar do governo de Cristo e viver em justiça. | Paz, justiça, prosperidade e conhecimento da glória de Deus sobre a terra. | Aliança Davídica, que promete um reino eterno ao descendente de Davi (Cristo). |
É crucial notar que alguns teólogos criticam essa divisão rígida em sete dispensações, defendendo uma visão mais unificada do plano de Deus, onde a aliança da graça é o elemento central. Para esses teólogos, a história bíblica é melhor entendida como uma progressão da revelação da aliança, com diferentes administrações, em vez de sete períodos radicalmente distintos. Eles argumentam que a palavra "dispensação" (oikonomia) se refere à administração da casa de Deus, e não a períodos de tempo separados por testes e julgamentos.
Além disso, há um debate sobre a relação entre Israel e a Igreja em cada dispensação. O dispensacionalismo clássico enfatiza a distinção entre Israel e a Igreja, com planos escatológicos distintos para cada um. No entanto, outros teólogos entendem que a Igreja é o novo Israel, com continuidade nas promessas e no plano de Deus.